quinta-feira, 25 de junho de 2009

SOPA


“Se a velho quiseres chegar muita sopa terás que manducar”

SOPA, A magnífica !


Embora todos os animais se alimentem, apenas o Homem cozinha os alimentos, desta forma, a culinária transforma-se num símbolo da nossa humanidade, algo que nos distingue do resto dos elementos da natureza.
A alimentação transformou-se rapidamente num dos muitos rituais comuns aos seres humanos, variando de cultura para cultura, mas assumindo, quase sempre, uma actividade de grupo, enquanto elemento do ecossistema, necessita de comida, e os seus hábitos alimentares variam em função do que o meio que o rodeia e lhe podem oferecer. Contudo, também os seres humanos foram determinantes na evolução dos alimentos, seja pela selecção e domesticação de espécies animais e vegetais, seja pelo desenvolvimento de todos os métodos e instrumentos necessários à sua transformação para a dieta humana.
A invenção da sopa foi um marco importante nos hábitos alimentares. A descoberta do fogo foi o ponto de partida para amaciar os alimentos e posteriormente cozinhá-los. Desde a sua descoberta, a sopa que inicialmente não era mais que caldos de carne ou cereais, contribuiu desde cedo para um bem estar da população. A título de exemplo, foi quando a sopa entrou nos hábitos alimentares que os dentes tiveram uma maior duração.

Desde a que o homem come sopa, esta passou em inúmeras vezes, por ser o prato principal da refeição, por ser económica e bastante nutritiva. No entanto não eram apenas os mais pobres que a apreciavam, na própria corte real, a sopa era um bem divino e apreciado.
Não havendo utensílios de metal ou barro, a sopa era confeccionada através de buracos existentes em pedras que eram aquecidas.

Na Grécia ficou famoso um caldo negro da cidade de Esparta, feito com sangue de alguns animais misturado com vinagre e especiarias.
Em Roma, a sopa era um prato apreciado por todas as classes. O imperador nero tinha o costume de diariamente comer um caldo á base de alho-porros que acreditava fazer-lhe bem às cordas vocais.
Na idade Média, as sopas foram muito populares: de favas, abóbora, ervilhas, couves, toucinho, condimentadas com bastante canela e gengibre e mais tarde com açucar. Era também costume colorir as sopas com açafrão para ficarem amarelas, leite de amendoas para ficarem brancas.
A partir do sec. XVI, as cozinhas italiana e francesa deram o seu " toque de classe" á arte de preparar sopas. A primeira introduziu a novidade das massas e ervas aromáticas como o tomilho, os oreganos e a manjerona. de França os cozinheiros davam o seu melhor: cremes, bouillons, consommmes, batizando suas criançoes com nomes reais.

Em Portugal temos as canjas que segundo alguns especialistas terá vindo da Índia, o Caldo verde indispensavel por altura dos santos populares, a sopa do cozido, as sopas de peixe, as sopas de feijão e tantas outras.

Em espanha, o gazpacho, com tomate, pepino, alho, pão e azeite; em França a soupe ál'oignon, á base de cebola; em Inglaterra, a oxtail, sopa de rabo de boi; em Itália, , o ministrone , de feijão, massas e legumes; na China, a sopa de ninhos de andorinha.



sopas portuguesas


Entre algumas das preciosidades da cozinha tradicional portuguesa no que concerne à sopa temos a de castanhas de Trás-os-Montes, o Caldo de Couves, da Beira Alta, a ribatejana Sopa da Pedra, ou a Açorda Alentejana. Do continente para as ilhas temos a Sopa de Moganga da Madeira e a Sopa do Espírito Santo, dos Açores. Percebemos que a tradição culinária portuguesa inclui as chamadas sopas ricas, algumas delas acabando por derivar, actualmente, para pratos mais secos, como os ensopados e guisados, caldeiradas. E se a diversidade nas sugestões é grande, não lhe fica atrás a lista de ingredientes que integra as sopas nacionais, com os produtos hortícolas e leguminosas à cabeça. Cebola, cenoura, batata, feijão, abóbora, grão, nabo, beterraba, couve, azedas, poejos, ervilhas, hortelã, beldroegas, coentros, são apenas alguns dos ingredientes que arrebatamos ao caldo da sopa, sem nos prestarmos a um grande exercício de memória. Não ficamos por aqui, claro. Juntamos os frutos como a castanha, os cereais como o arroz; as carnes, de vaca, de borrego, de galinha; de perdiz; os enchidos, o toucinho. Continuamos pelos peixes, como o bacalhau, o cação; passamos aos mariscos e citamos o camarão, as amêijoas. Reflectimos mais um pouco e chegamos ao pão, indispensável nas açordas alentejana. Depois, acrescentam-se os temperos para a confecção. O quase indispensável e mediterrânico azeite e, mesmo, sabores inusitados como a canela, o gengibre, ou o açafrão. Como visto basta espicaçar um pouco a memória para que o itinerário sensitivo das sopas se espraie infindavelmente. Isto sem termos sequer estendido o elenco a outras geografias gastronómicas. Ai encontramos, por exemplo, o gaspacho espanhol, a Bouillabaisse de Marselha, em França, o Borscht, da Rússia, a Fasolada grega, o Goulash Húngaro, o Minestrone italiano, o Menudo mexicano, a Brabançonne belga. Poderíamos continuar indefinidamente. Tal como referiu um escritor celebrado “a sopa fala da civilização de um povo”.