sábado, 15 de maio de 2010

O MILHO E A DESFOLHADA...


O milho, desde a expansão marítima e a sua introdução nos hábitos alimentares da população de Portugal Continental, tem principalmente na zona norte, o habitat agrícola por excelência, tendo em torno deste cereal sido criada toda uma gastronomia específica (o bolo do tacho, a broa, a bola de carnes ou sardinha) bem como um conjunto de edifícios de armazenamento e de transformação.
Existem ainda hoje muitos moinhos e um incontável número de espigueiros, em madeira, pedra cimento e tijolo. Essa importância manifestou-se na designação de «Celeiro do Minho», atribuída no reinado de D. João IV, durante a Guerra da Restauração.
Como referido acima, o cultivo do milho é uma tradição do Minho, Douro Litoral e Beira Litoral. Esta planta gosta muito de calor e água, por essa razão é necessário muito trabalho para a regar. No Alentejo, que é a região mais seca de Portugal, há algumas áreas de cultivo de milho mas só onde a rega abundante é possível. A sementeira é feita nos princípios de Maio, em Junho é sachado para tirar as ervas daninhas e mondado.
A monda consiste em tirar dois pés de milho que estejam juntos, para que aquele que esteja mais forte se possa desenvolver melhor. Em Julho começam as regas. Há um sistema de regadio que, ainda hoje, é motivo de muitas zangas e até de acidentes graves. Quando o milho cresce, é-lhe cortado o pendão ou bandeira que é um óptimo alimento para o gado.
Na colheita cortam-se as canas com as espigas e fazem-se molhos. As espigas eram escanadas e deitadas em cestos, que eram levados em carros de bois para o beiral ou eira. As canas eram atadas em molhos e o lavrador fazia rimas (medas) para secarem. No Inverno, serviam de alimento aos animais.



MAS O QUE É A DESFOLHADA ?
Nos fins de Setembro, princípios de Outubro cortam-se as canas do milho, que são transportadas para a eira no carro de bois. Na eira faz-se a desfolhada.
A desfolhada é um trabalho agrícola onde se retira a espiga (ou maçaroca) da planta, que se chama milho. Embora possa parecer uma festa, é um trabalho duro e cansativo, tanto para os adultos, homens e mulheres, como para os jovens e as crianças que, por essas aldeias fora, trabalham no campo.
À medida que se desfolha, vai-se amontoando as espigas em cestos de verga ou de costelas que, depois de cheios, são despejados no canastro ou espigueiro. Os jovens participam entusiasmados nas desfolhadas, sempre na esperança de encontrar milho-rei ou rainha para poderem dar um beijo ou um abraço à namorada.
Onde está o milho-rei?
Durante as desfolhadas, o aparecimento das espigas de milho vermelho é fundamental para manter o entusiasmo de todos. É que o feliz achador tem a obrigação de gritar bem alto: - MILHO REI ! - e o direito de dar uma volta a todos os trabalhadores, distribuindo abraços. Antigamente, esta era uma oportunidade única para se aproximar fisicamente das raparigas, das namoradas, até das noivas porque, na época, as convenções sociais eram muitas e a vigilância por parte dos pais era muito apertada.
Sempre, após as malhadas ou desfolhadas, os donos da casa ofereciam uma lauta merenda, geralmente constando pão de milho ou centeio, azeitonas, iscas de bacalhau ou sardinha assada, não faltando, é claro, o indispensável vinho verde servido em cabaça por onde todos vão bebendo. Durante essa merenda e prolongando-se por algum tempo mais, entre os presentes sempre tinha alguém que tocava, ou pelo menos “arranhava” uma concertina (é assim que chamam aos acordeões menores) e o baile estava formado. No Minho não se compreendia que se pudesse executar qualquer faina (trabalho) agrícola sem ser acompanhada ou coroada por cantos e danças.
Depois das desfolhadas, as folhas eram aproveitadas para encher colchões. As espigas eram malhadas para a desfolhar os grão e o carolo ( aparte branca do interior da espiga) era aproveitado para o fogo. O pó, chamado moinha, dava para encher almofadas. O grão do milho era passado por um limpador e posto na eira a secar. Depois de seco, era limpo novamente e posto em caixas.
A desfolhada, hoje em dia, só é retratada como antigamente, pelas Associações Culturais, que com isso, dão a conhecer, os lindos costumes do Minho.

A Associação Cultural Recreativa e Desportiva de Moselos tem vindo a recriar, desde 1998, na eira no Museu Regional de Paredes de Coura, desfolhadas tradicionais, com o objectivo de viver a tradição das colheitas em espírito comunitário festivo. A próxima desfolhada tradicional terá lugar no dia 11 de Outubro, pelas 21h00, no referido Museu, na Rua Aquilino Ribeiro. Mais informações pelo telefone 251 780 122.




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